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Prof. Dr. Antonio Alexandre Bispo

Universidade de Colonia 

ANAIS BRASIL-EUROPA

ESTUDOS CULTURAIS E MUSICOLOGIA EM CONTEXTOS GLOBAIS

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Prof. Dr. Antonio Alexandre Bispo, professor de Etnomusicologia do Instituto Musical de São Paulo de 1972 a 1979, Professor do Instituto de Musicologia da Universidade de Colonia, Alemanha.

O FESTIVAL DE MÚSICA CLÁSSICA JAPONESA

E ETNOMUSICOLOGIA EM SÃO PAULO


TEATRO PARAMOUNT - SÃO PAULO




1966

Publicação para estudantes de Etnomusicologia do Instituto Musical de São Paulo, 1972
Programa do Festival de Música Sacra Japonesa em São Paulo em 1966 com dedicatória

Música Clássica Japonesa foi tema de Festival realizado no antigo Teatro Paramount, em São Paulo, no dia 19 de junho de 1966. Esse evento, merece ser recordado por muitas razões. Foi uma iniciativa e realização de músicos, bailarinos, regentes, grupos corais e instrumentais, professores e seus alunos da comunidade japonesa de São Paulo. Revelou a estudantes de música e pesquisadores a vitalidade da prática vocal e instrumental de japoneses e seus descendentes em São Paulo, o significado do ensino da música às novas gerações já nascidas no Brasil e a intensidade com a qual estudos de natureza musicológica eram desenvolvidos pelos próprios japoneses e seus descendentes em São Paulo. 


Esse Festival, no qual participaram musicistas brasileiros a convite dos seus organizadores, foi ponto de partida para os estudos referentes à música do Japão e na comunidade nipônica no Brasil. O interesse pela música japonesa e cooperações com japoneses e filhos de japoneses marcaram atividades no âmbito do movimento Nova Difusão e de seu Centro de Pesquisas em Musicologia


Em nível superior, estudos referentes à música do Japão e de japoneses e seus descendentes no Brasil constituiram um dos principais focos de atenção da Etnomusicologia instituída como matéria em cursos de Graduação e de Licenciatura em Educação Musical da Faculdade de Música do Instituto Musical de São Paulo a partir de 1972. O Festival de Música Clássica Japonesa de 1966 foi sempre o principal referencial e marco dos estudos que então se desenvolveram. Músicos que tinham participado do Festival colaboraram com entrevistadores e estudantes.


O Instituto Musical de São Paulo, então localizado na rua dos Estudantes, Liberdade, situava-se em bairro marcado pela presença nipônica. Muitos dos estudantes eram de ascendência japonesa. Iam atuar, como também outros educadores que se formavam, em classes com grande porcentagem de crianças e jovens japoneses da segunda, terceira e mesmo quarta geração: nissei e sansei ou yonsei


Esses educandos estavam inseridos em diferentes fases de processos integrativos e de identificação com o Japão como país de pais e antepassados, assim como com a sociedade brasilieira. Como o Festival de Música Sacra Japonesa de 1966 revelara, os estudos não podiam deixar de considerar que dentro da própria comunidade nipônica já há muito crianças e jovens tinham recebido formação musical, aprendido instrumentos e canções tradicionais japonesas. Vários músicos e professores japoneses tinham-se destacado pelo seu empenho no ensino instrumental e vocal e no cultivo de tradições. Vários deles salientavam-se também como musicistas e regentes na vida musical brasileira, dedicando-se ao repertório ocidental.


A partir de 1975, esses estudos desenvolvidos no Brasil foram considerados na área da Etnomusicologia do Instituto de Musicologia da Universidade de Colonia, Alemanha, sendo a música do Japão um dos principais focos de interesse e de estudos do respectivo departamento. Colonia é um centro da Japanologia.  Foram considerados desde então por etnomusicólogos especializados na cultura musical do Japão, em particular Robert Günther (1929-2015). Vários semestres de estudos foram dedicados a temas concernentes à música do Japão, em particular da sua música de Côrte. 


O desenvolvimento do projeto musicológico referente  a Portugal e ao Brasil em cooperações internacionais então iniciado, decorreu em estreito relacionamento com aquele dos estudos japonológicos na musicologia alemã e européia em geral. O Brasil foi o único país que pôde apresentar estudos anteriormente feitos sobre a música de japoneses e seus descendentes na imigração.


Os estudos foram desenvolvidos com a participação de pesquisadores japoneses, tratados em projetos e eventos nas décadas que se seguiram. Em 2025 realizou-se viagem de observações e estudos ao Japão.


O programa do Festival de 1966


No Festival de Música Clássica Japonesa de 1966 apresentaram-se vários executantes de koto, chakuhati, o conjunto de koto e coral Assunaro sob a regência de Motoi Munakata, número de danças por Kanhide Kyo Fujim e Kaeko Iwata a, um conjunto de chakuhati e um conjunto de koto, chakuhati e coral Ashibue Assunaro sob a regência de Keniti Yamakawa. As peças apresentadas foram traduzidas para o português e comentadas, demonstrando o intento dos japoneses e seus descendentes no diálogo com brasileiros e os seus esforços de manutenção de sua identidade através da música e dos instrumentos sem prejuízo de sua integração na sociedade brasileira.




Programa do Festival de Música Clássica Japonesa em São Paulo em 1966